tag:blogger.com,1999:blog-2926078875173166412024-03-13T01:37:54.726-07:00Contos para além do espelhoAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/05977705299653143232noreply@blogger.comBlogger5125tag:blogger.com,1999:blog-292607887517316641.post-39325685349083993842012-07-19T16:20:00.003-07:002013-05-25T15:55:58.892-07:00Tempestades & Marshmallows<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDdboKqltP-6mFUbahqeZSasH6oOqlKHwqP9pXsZwkEKbBcnmgreOU8BYdfyC54bSaSw1A2iQL-0ter07WQtLfRAuA-1dHR8VMrfD5tgOZxry1GWQopFqkzhjawf2TAlkYBGX58moPb0pI/s1600/marshmallows.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDdboKqltP-6mFUbahqeZSasH6oOqlKHwqP9pXsZwkEKbBcnmgreOU8BYdfyC54bSaSw1A2iQL-0ter07WQtLfRAuA-1dHR8VMrfD5tgOZxry1GWQopFqkzhjawf2TAlkYBGX58moPb0pI/s1600/marshmallows.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">"O tempo estava deprimido. As nuvens ameaçavam romper os
céus de chuva grossa e até mesmo de granizo. O vento soprava fortemente contra
os objetos no seu caminho, o seu som ecoando como o sopro de uma garrafa. O céu
estava cinzento e tristonho, tal como a menina junto à janela, que pensava no
seu pequeno dilema. Joana Salgueiro, mais conhecida como Joaninha, tinha um
pedido a fazer. Uma prenda de aniversário atrasada. E, para tal, precisava de
falar com os pais acerca disso. A sua sábia madrinha, Cristina, aconselhara
falar com a sua mãe em dias maus, quando Laura Salgueiro bebia chocolate
quente. Aí, ela ficava de bom humor e era a altura perfeita para falar com ela.
Claro que Cristina ignorava que nem depois de todas as tempestades vinham
bonanças. Afinal, os pais da pequena eram pessoas erróneas, por baixo da camada
de verniz que os transpareciam como gente perfeita. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Estava sentada com as pernas cruzadas junto à varanda,
fitando o exterior com profundo aborrecimento e tristeza. Suspirou, como um
cachorrinho abandonado. Os seus grandes olhos verdes fitaram por cima do ombro
a porta do escritório, onde a sua mãe se encerrara desde o meio-dia. Pensou no
seu pai, que estava na sua empresa de engenhos eletrónicos - pelo que ela podia
entender em tão tenra idade - trabalhando. Em vez de estar ali, com as duas. Talvez
fosse por isso que a sua mãe estivesse completamente em baixo. Era suposto passarem
o dia juntos, os três em família e agora um dos membros não estava presente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A porta do escritório abriu-se e de lá saiu uma mulher
loira. A sua mãe era bem conhecida pela sua imagem de mulher fina, com cabelo
delicado, rosto de boneca e roupas da última moda. Mas, naquele dia, aparentava
a mais comum das mulheres, os cabelos presos, cara isente de maquilhagem e
usando roupas velhas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A sua mãe passou a sala até à cozinha, sem dar conta da
presença da filha, que a observava atentamente. Já na outra divisão, preparou
uma bebida. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Joaninha levantou-se e aproximou-se da mãe com cautela,
pensando naquilo que Cristina lhe contara. Viu que a mãe preparara o seu chocolate
quente com costumava fazer e que tirara um saco com gomas brancas do armário.
Ao ver a filha, não escondeu a surpresa:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">-Querida… - Não sabendo o que dizer e não querendo manter
o silêncio, Laura olhou para a sua caneca. – Queres um pouco? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Joaninha assentiu, pegando na caneca quente da mãe. Esta
pegou num molhe de gomas brancas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">-Marshmallows? – Perguntou, exibindo um sorriso cansado.
O rosto belo tentava esconder mágoa e a falta de sono, com insucesso. A pequena
fez um olhar inquisitório.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">-O que é isso? – Perguntou, com a sua vozinha de criança.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">-Uma coisa que a Maria gosta muito. – Joaninha notou numa
certa hesitação ao mencionar a irmã mais velha. Joaninha sabia que faziam anos
desde que as duas se falavam. Tudo porque os maridos de ambas haviam-se pegado
por assuntos que Joaninha ainda não tinha conhecimento, sendo muito nova para
tal. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A pequena assentiu silenciosamente e deu um gole na
bebida quente, observando a goma a afogar-se no mar castanho. Soube-lhe bem, o
cacau bem forte e com um sabor doce excelente. Pelo menos para duas gulosas
como elas as duas. Pensou por um bocadinho em silêncio, ansiando pelo momento
certo para fazer o seu pedido à mãe. Laura preparou outro chocolate quente e
mergulhou dois marshmallows na sua caneca. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Laura não disse nada durante muito tempo, perdida em
pensamentos. Esquecera-se que a filha estava na mesma divisão que ela e que a
observava atentamente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Porém, paciência não era qualidade da senhorita Joaninha Adriana
Salgueiro, que mordeu o lábio de tanto tempo esperar. Sem se aperceber, atirou
logo o seu pedido à mãe, sem aviso prévio:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">-Quero um mano. – Disse, o tom um pouco mandão. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Laura não esperava
que a filha falasse de repente e muito menos que dissesse <i>aquelas</i> palavras. Sobressaltada, deixou cair a caneca, o chocolate
quente espalhando-se pelo chão de mármore branco e os dois solitários marshmallows
jazidos ali no meio. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">-O quê? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">-Queria um irmãozinho. Ou uma irmãzinha. Para brincar
comigo. – Respondeu a pequena, com seu ar inocente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Joaninha estudou a cara da mãe, vendo as suas reações. Laura
mostrara-se surpreendida com o pedido, mas havia algo mais mal camuflado
naquelas expressões. Raiva.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Porquê, ela não sabia. Nunca soube, pois naquele momento
o seu pai entrara em casa, arrastando pelo braço uma pasta de veludo preta.
Pousou a gabardina no cabide e a pasta no chão. Joaninha ia ter com o pai para dar-lhe
um abraço, porém a mãe travou-a, os seus olhos verdes sem qualquer brilho.
Quando Pedro Salgueiro viu a filha, aproximou-se para a abraçar, até que
reparou na esposa, atrás da menina. Joaninha não se atreveu a olhar para a mãe
e descobrir que mensagem misteriosa eles passavam um ao outro. Tudo o que sabia
fora que a mãe a mandara rispidamente para cima e, poucos minutos depois,
podiam ouvir-se vozes exaltadas vindas da sala. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ela chorou no seu travesseiro, temendo ser a culpada da
zanga dos pais. Mas ela não adivinhava que o casal já tinha problemas fazia
muito tempo e ela era a última culpada naquele problema gigante, que se
alastrara como uma bola de neve. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">No dia seguinte, encontrou a mãe na cozinha a comer os
malditos marshmallows, os olhos vermelhos e a pele completamente pálida.
Murmurava para si própria, como se tivesse uma conversa imaginária com alguém.
Do pai, não havia sinal. A sua gabardina e a mala tinham desaparecido. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Laura olhou para a filha, e os seus olhos voltaram a
ficar húmidos. Num segundo, abraçava a filha com todas as suas forças, como se
a sua vida dependesse disso. E a pequena inocente fitou os marshmallows. Talvez
tivesse sido aquilo que tivesse estragado tudo o que deveria correr bem. Mas,
em qualquer dos casos, não devia ter prestado atenção ao que Cristina dizia.
Sabia lá ela o que era viver com os seus pais."</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large;"><b><u>BY:</u> Ana Santos</b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05977705299653143232noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-292607887517316641.post-84629046190271461852012-07-08T06:36:00.000-07:002012-07-08T06:42:15.240-07:00Filhas Perfeitas<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhES6dg9bgwZA97199Y1BvordSFS7vl4sytQJAt0GaLJ8uPZMGZONIr4KwUTaxjCiRG_NKeAwjWQGTwtc4S97Yd345KjYPbi6wYlMetfD5lrzurTusoff28DJkNWoJcOTmNcVXV_oCfNv0/s1600/filhas+perfeitas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhES6dg9bgwZA97199Y1BvordSFS7vl4sytQJAt0GaLJ8uPZMGZONIr4KwUTaxjCiRG_NKeAwjWQGTwtc4S97Yd345KjYPbi6wYlMetfD5lrzurTusoff28DJkNWoJcOTmNcVXV_oCfNv0/s1600/filhas+perfeitas.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 150%;"> </span><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> “Vou-me embora, mãe. Não pertenço aqui!”, disse-me ela um
dia. Estava no quarto a preparar uma gigantesca mala de viagem quando eu entrei
e perguntei-lhe o que estava a fazer. Os seus olhos azuis, ainda que traíssem
alguma tristeza, brilhavam de extrema determinação. E essa determinação era
aquilo que definia a minha filha mais nova, Luísa. E quando me deparava com
aquela menina determinada, sentia uma parede a erguer-se, a separá-la de mim. E
sentia-me um fracasso para com ela. Nunca adivinhara porque é que ela era tão
determinada, ambiciosa e solitária. Aurora havia-me dito que ela não tinha uma
boa relação com as filhas das minhas amigas, e eu nunca acreditei. Só agora me
apercebia do quanto cega fora naquela altura, não vendo a minha menina afastada
daquelas raparigas, tão sozinha, preparando o seu momento de fuga para a
liberdade desde os seis anos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> A minha mais velha estava casada e prestes a dar-me um
neto. E a minha mais nova abria as suas asas para terras longínquas, para longe
de mim. Sempre que pensava nisso, uma dor me afligia. E lembrava-me que eu era
uma má mãe. Uma má mãe que criara filhas perfeitas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> - Srª. Carvalho? – Alguém chamou-me. Todavia, eu não
tirava os olhos da janela, onde via a minha mais nova a correr para o carro com
a mala a arrastar pelo caminho. A irmã corria atrás, o máximo que podia com a
sua tão avançada gravidez. E o meu coração deu um salto. Ela ia-se embora sem
se despedir. Talvez se eu fosse atrás delas…<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> - Srª. Carvalho? – Voltaram a chamar-me. E, desta vez, não
as pude ignorar. Os seus rostos estavam demasiado sérios. Era uma reunião informal na minha casa de verão, onde eu deveria passar duas semanas com a minha
família antes que o meu neto nascesse. Faziam quase dez anos desde que entrara
na política e, desde aí, fora sempre a subir. Hoje, era imprescindível para o
meu partido. Tinha aquilo que sempre sonhara desde que terminara os
estudos. Tinha um cargo importante no Governo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i><span style="line-height: 150%;"> Demasiado importante</span></i><span style="line-height: 150%;">, pensei para mim própria ao ver Luísa a afastar-se.
Tantos erros eu cometi no passado à custa do meu emprego e agora a única
regalia daquele trabalho escapava-me das mãos como fumo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Notei vagamente que a minha grande amiga Sílvia não
estava presente, ainda que eu lhe tivesse pedido pois não queria mergulhar em
trabalho em plenas férias. E eu sabia porquê. Renata, a filha de Sílvia, era a
rapariga mais insuportável que eu alguma vez vira. Era mimada, fútil,
temperamental e tão manipuladora que até conseguiu fazer com a filha de uma
outra amiga minha – inocente em idade jovem - se virasse para maus caminhos.
Sílvia não tinha mãos a medir com aquela rapariga. E, naquele dia, a jovem
havia plantado mais alguma semente maligna. Tão má que a mãe não estava
presente num encontro importante do qual eu me queria ver livre. Tão importante
que eu dava por mim a ver as minhas filhas a afastarem-se….<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Eles haviam continuado a conversa sem mim. E eu não podia
importar-me menos com aquilo que discutiam. A economia do país era um problema
de segundo plano naquele momento. Engoli em seco e dei um passo para trás, disposta a sair da
sala e correr para juntos das minhas filhas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Todavia, a voz da minha secretária travou-me. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> - O secretário do Sr. Ministro da Economia mandou-me estes
faxes com as assinaturas dos membros da assembleia. – Informou a jovem, perante
os olhares sérios e um pouco aborrecidos que recebia, o meu incluído. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> - Assim tão depressa? – Perguntou um dos homens,
lentamente. A conversa não iria terminar ali. Eu retomei a minha atenção na
janela, vendo Luísa a falar com a irmã, e o meu marido Jorge a aproximar-se delas.
A conversa fora breve e eu soube que voltara a falhar quando vi o meu marido
abraçar as nossas filhas lavadas em lágrimas e a entrar no carro, disposto a
levar a nossa mais nova ao aeroporto. Aurora também entrou, antes de dirigir
umas palavras para alguém que se encontrava a uns metros dela. Provavelmente o
marido. Antes de o carro arrancar e partir, pude sentir os olhos de Luísa em
mim, como se ela soubesse que eu a observava a partir da janela. Uma dolorosa
mágoa perpétua trespassou as minhas entranhas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> E, de certa forma, ao olhar para o lugar onde o carro de Luísa
estivera estacionado, soube que tinha falhado. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Era tarde de mais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Falhei e assim perdi as minhas filhas perfeitas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Renata estava grávida, com apenas dezoito
anos. E não sabia quem era o pai. Sílvia desabafava os problemas que tinha com
a filha e as nossas amigas concordavam, transparecendo os seus próprios
problemas e, por vezes, até desejando regressar atrás no tempo. Todavia, sempre
que eu entrava, elas calavam-se de imediato, lançando-me olhares de pena e
consolação. Porque elas sabiam aquilo que eu sabia. Estávamos em eleições e eu
despedira-me. Arruinei a minha carreira quando a minha esperança de felicidade
morrera num acidente de carro. Elas sabiam que as minhas filhas eram o folego
do meu viver, o motivo por que eu era tão forte e determinada, tal como Luísa. E
Aurora, tão esperta e sensata. As minhas filhas…<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Filhas perfeitas
que falhei, ainda que as minhas amigas me dissessem o contrário. Por vezes, eu
sentia que nunca falhara como mãe. Que, em comparação com as filhas delas, as
minhas tornaram-se perfeitas por meu mérito. Mas eu sabia que o mérito ou era
do pai, ou era delas próprias. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Não tinha problemas com isso. Elas eram perfeitas. Filhas
perfeitas que eu perdi. Se ao menos eu tivesse ido atrás delas… <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="line-height: 150%;"> O meu genro brincava com a minha neta no jardim, os seus
olhos traindo o </span>sorriso </span><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">luminoso que mostrava. Porque ele iria criar aquela
menina sozinho. Aquela menina que era muito mais do que uma neta para mim. Era
a escolha da minha filha. A vida de Aurora pela da sua filha. E eu não
esperaria outra escolha da minha filha perfeita mais velha.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Ao meu lado, o meu marido suspirou, enquanto observava os
dois, o seu olhar perdido no horizonte. Os mesmos olhos determinados de Luísa,
agora mortos e derrotados. As mãos dele seguravam a cadeira de rodas com uma
força raivosa e eu sabia o que ele pensava. Que ele deveria ter morrido em vez
delas. Antes isso do que as nossas filhas sem sopro e ele inválido. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Sentei-me no colo dele e beijei-o suavemente, não
querendo alastrar aqueles pensamentos obscuros, não querendo que aquela culpa
de sobrevivente o tirasse de mim. Porque a culpada era eu. Deus dera-me algo
poderoso e eu falhei, deixando-me apenas aquela atroz dor perpétua no peito.
Tive duas filhas perfeitas mas deixei-as ir. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Se ao menos eu tivesse
ido atrás delas…</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<h2 style="text-align: right;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large;"><u>BY:</u> Ana Santos</span></h2>Unknownnoreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-292607887517316641.post-14678957511476205402012-06-29T05:29:00.004-07:002013-05-25T15:58:35.255-07:00Carta<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhztaarUhGk461nmrDyHEwSD6JiNyOGHg0vwXvAf3wbI8_kx1UILY6s8GVY0x0lT4cPyLPHQCgfHBn4iaTwmM2lu2zTdpIyHMLgwvqVJr2hn1sDu3Ks5Yp2wm0lKszt19lBh-UFQUXw1wc/s1600/4639772572_7396e02019.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhztaarUhGk461nmrDyHEwSD6JiNyOGHg0vwXvAf3wbI8_kx1UILY6s8GVY0x0lT4cPyLPHQCgfHBn4iaTwmM2lu2zTdpIyHMLgwvqVJr2hn1sDu3Ks5Yp2wm0lKszt19lBh-UFQUXw1wc/s640/4639772572_7396e02019.jpg" height="424" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"> </span><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Já
muitos anos se passaram. E nunca me dei ao trabalho de te escrever. Esta carta
já tem destinatário, mas nunca serás tu. Talvez a lareira ou a sarjeta junto ao
prédio. Mas nunca para ti. Porque tinha metade da minha altura atual quando
percebi que era inútil te dizer o quer que seja. Nunca vens cá e quando vens,
esperas ver outra pessoa. Outra pessoa que não é a tua filha. Quiseste
tornar-me em algo que eu não era, mascarar-me com um semblante igual ao teu.
Para que eu fosse um clone teu, sem cabeça nem personalidade própria. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Abandonaste-me.
A única coisa que me deixaste foi o teu nome. Disseste-me na cara que eu não
era aquilo que esperavas, sem me dar uma explicação. Sem me deixares entender
porquê. Fiquei a adivinhar. Anos passam-se e ainda desconheço a resposta. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Talvez
porque sou igual a ela. Os meus cabelos, a forma do rosto. De ti apenas restou
o olhar determinado e destemido, como o meu avô sempre descreve. Peço perdão.
Agora resta é eu realmente o desejar. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Estou
sempre aqui em cima, o mais longe possível da civilização. Deixaste-me sozinha
e assim fiquei. O meu avô é maluco e deixa-me louca, mas não podia deixar de o
amar. Ele mantem-me sã e acho que faz as suas maluqueiras para que eu me
distraia e que não passe tanto tempo sozinha dentro de casa. Porque, por muito
fortes e conselheiros que os espíritos sejam, eles nunca entenderão o meu
problema. E nunca me ajudarão a ultrapassá-lo. E culpo-te por isso. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Também
sinto a falta dela. Mas, claro, nunca pensas nisso. Ela morreu e desenhaste uma
linha a separar-nos sem me explicar o porquê. E isso deixa-me frustrada, porque
não te posso ligar a contar os meus problemas, não posso chorar no teu ombro.
Tenho que ser forte e suportar tudo sozinha, aquele peso nos ombros que só
adultos carregam. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Nunca
me senti tão isolada como agora. Raparigas andam a passar aqui perto e olham-se
com desdém. Porque sou estranha. Porque sou solitária. Não tenho ninguém com
quem falar e não posso revelar estes pensamentos ao meu avô. Isso iria
desanimá-lo e eu não toleraria tal cenário. Ele cuidou de mim quando tu não o
fizeste, devo-lhe a felicidade que ele me prometeu. Mesmo que ela seja apenas uma
mera fantasia. Que o meu temperamento volátil seja a única amostra de que eu
avancei. De que a tua ausência já não me incomoda. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Mas
é claro que incomoda! Tenho catorze anos e não tenho pai. De ti, só tenho
memórias de um homem que me tentou mudar e que, mal viu o fracasso, fugiu a
sete pés como se eu fosse um brinquedo que se pudesse jogar fora após se
fartarem. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> E,
lá fora, todos me culpam por algo que eu não fiz. Sou desmoralizada e os poucos
que não me odeiam, temem-me. E isso pesa-me na mente. Não gosto disto. Desta
solidão que me impuseste. E deves perguntar-me como ultrapasso esta dor… <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> …Esquece,
é um autêntico disparate acreditar que alguma vez me mostrarias preocupação…<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Mas…
se o fizesses…não me acalmaria antes de falar, como faço sempre. Faria o que
qualquer rapariga da minha idade faria. Fugiria aos meus problemas e poria as
culpas nos outros. Que importa a coragem e a responsabilidade para encarar os
seus problemas? Uma pessoa como eu, sozinha com o meu cão e o meu avô lunático,
não tem outra hipótese. É fugir ou arder na fogueira. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> E
fico deprimida. Porque a culpa é tua. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Já
escrevo esta carta há três dias. Mais gente passa aqui, mais gente me evita. Os
rumores espalham-se tão depressa que já muita gente conhece a rapariga do
prédio amarelo, que nunca saí de casa. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Quando
pego na caneta de tinta permanente, fico sempre a pensar no que irei escrever.
E depois as palavras fluem rapidamente, como se estivessem apenas escondidas
num canto obscuro da minha mente, à espera da oportunidade certa. É ai que
descubro que dificilmente irei melhorar. Preciso estupidamente de ti. Tanto que
tento afogar as minhas mágoas numa carta que acaba por ser hipoteticamente
endereçada a ti. E, desta vez, irei assiná-la no fim e livrar-me dela. Uma
lágrima caiu-me do olho, contaminando esta carta. Dando-me mais motivos para a
queimar. De eliminar este traço de fraqueza. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Porquê?
Porquê? Porquê? Aonde é que eu falhei? Que espectativas esperavas de mim? Se eu
soubesse, podia ser que melhorasse. Podia ser que talvez viesse a ser a menina
do papá. Mas não. Decidiste abandonar-me, deixando sozinha com o espirito da
minha falecida mãe, que me chama nos meus sonhos.”Rita, Rita!”. Mas ela não é
real. Tu és! E não estás aqui. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Deixas-te só e desamparada. Odeio-te por isso.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> E
culpo-te por isso.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<h2 style="text-align: right;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large;"><u>BY:</u> Ana Santos</span></span></h2>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-292607887517316641.post-50850024072431409042012-06-20T06:25:00.005-07:002013-05-25T15:57:40.716-07:00Saudade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmSJ0XdjXJFT2It4Ud5N1QVPE474hc1hvQELgAcf5QQT_N7SQG_EfwUmcdSY3YXHgXn0s2tXXzScT3zBtxNcxOudWyDu_Yd37T21iGYed7wJPG9C4IF3LmXXLRpaP-YZjqxtO5ymAIsuo/s1600/saudade_by_Romeo_Tango.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmSJ0XdjXJFT2It4Ud5N1QVPE474hc1hvQELgAcf5QQT_N7SQG_EfwUmcdSY3YXHgXn0s2tXXzScT3zBtxNcxOudWyDu_Yd37T21iGYed7wJPG9C4IF3LmXXLRpaP-YZjqxtO5ymAIsuo/s1600/saudade_by_Romeo_Tango.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Saudade, palavra única derivada de um único país da
velha Europa. Um sentimento melancólico causado pela ausência de alguém muito
querido, assim ele dizia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Muitas cabeças assentiram em acordo ao som
das palavras do notário, umas fungando o nariz lamentavelmente em lenços de
pano e outras limpando lágrimas um tanto exageradas. Sim, sentiriam saudades da
sua irmã. Dela e do seu marido. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Muitos estavam ali presentes para ouvir o testamento
da sua falecida irmã, mas ela apenas comparecera porque a sua consciência a
mandara. Sentira a obrigação de tratar dos detalhes do funeral, do pequeno
convívio que se sucedera na casa onde ela e a irmã viveram na sua juventude e
de olhar pelas crianças. O tempo parecia ter abrandado durante as quarenta e
oito horas que se seguiram desde que recebera o telefonema do hospital. O seu
corpo deslizara lentamente pela parede, caindo no chão como um peso morto, o
rosto sem expressão a não ser de dor genuína. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Claro que, para todos, ela detestava a irmã.
Nunca se dera bem com ela. Tiveram a típica relação de irmãs, sempre discutindo
acerca de tudo e mais alguma coisa. A única coisa que aparentavam ter em comum
era o amor a coelhos. Sorriu levemente ao lembrar-se dos coelhinhos que o pai
lhes arranjara e que elas faziam turnos para tomar conta. Um projecto a longo
prazo que podia tê-las unido. Porém, isso não sucedeu. E, no fundo, ela sabia
que nunca fora tão próxima da irmã quanto gostaria.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">-“Eu, Patrícia Castro, e o meu marido José
Leite…” – A voz do notório era fatigante, não achando melhor eufemismo, conseguindo
apenas dilatar aquele aborrecimento incessante. – “…deixamos a guarda dos
nossos filhos…” – E ali estava a parte que ela estava à espera. Para a sua
consciência descansar e ela poder partir para Lisboa no próximo comboio,
precisava saber quem ficaria com os sobrinhos. – “…À minha irmã Maria Amélia
Castro.”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A plateia congelou. Mia engoliu em seco,
perplexa. Várias cabeças tornaram-se para ela, os rostos contraídos em
expressões de espanto e algum receio. Ofegando nervosamente, Mia olhou para os
sobrinhos. Três rapazes e uma menina. Eles pareciam os únicos que não mostravam
más emoções na decisão dos pais, mas talvez isso devesse ao facto de a morte
dos progenitores ainda não ter integralmente entrado nas suas mentes jovens e
inocentes. Não quando o mais velho tinha apenas onze anos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O que é que a irmã estava a pensar quando
escreveu aquele testamento? Estaria louca? Ela raramente via os sobrinhos,
estando apenas presentes nas festas comemorativas. De resto, era como se Patrícia
fosse a única filha de Joana Almeida e Filipe Castro. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Nunca fora muito próxima da irmã em vida. Aliás,
desde a morte dos pais que as duas se tinham afastado. Todos achavam que a
tragédia que as deixara órfãs iria uni-las, mas não foi o caso. Elas eram muito
diferentes. Durante muito tempo, Mia fora muito ingénua e, com a morte dos
pais, foi como se alguém tivesse rebentado o seu balão de brincar. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Arranjara todos os pretextos para sair da
casa onde crescera, onde Patrícia teimava em ficar. Estudara numa faculdade
fora da cidade natal e ajustara um emprego fixo em Lisboa. Só vinha ao Porto
para visitar a família da irmã e a campa dos pais. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Sentiu uma lágrima a cair-lhe pelo rosto,
enquanto os outros recuperavam do choque. Alguns contestaram a entrega de
custódia, nomeadamente os avós paternos dos miúdos, mas de resto todos
mantiveram-se calados. O silêncio de alguns, como a suas ex-amigas de infância
e as próprias amigas dos pais, da irmã e do cunhado era constrangedor e de
cortar à faca. Era como se elas soubessem da decisão de Patrícia em antemão.
Mas não concordavam… <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E nem ela concordava. Nunca fora mãe. Fugira
sempre das responsabilidades que uma família impunha. Ela era a tia que se
sentava num lugar extra nos dias de festa. Aquela que trazia presentes que as
crianças detestavam, mas que eram bem-educadas para não lho dizer na cara. A
maioria das vezes que via a irmã, não conseguia parar de discutir. Tanto que
deixara de a visitar durante um ano inteiro. Até à semana anterior. Ela viera
visitá-la a Lisboa, perguntar como ela estava, se precisava de dinheiro. E,
quando deu por si, desabafava com Patrícia acerca de problemas no trabalho, nos
insucessos românticos e nas frustrações que passava. Estranhamente, a irmã não
revirou os olhos. Apenas sorriu. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">-Cresceste. – Dissera ela. – És uma adulta.
Tens agora problemas de adulto. E fico muito contente em saber como te
desembaraçaste sozinha e te tornaste responsável. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mia olhou para a sua chávena de chá, embaraçada.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">-Por acaso, tive a tua ajuda. Se não me
tivesses pago os estudos, nunca seria aquilo que sou hoje. É a ti que devo
agradecer. Obrigada, irmã. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Duas últimas palavras e, uma semana depois, a
sua irmã morria num acidente de carro juntamente com o marido, não antes sem
alterar o testamento. De entregar à irmã mais nova a custódia dos seus quatro
filhos, o mais novo ainda um bebé de treze meses. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">As pessoas começaram a afastar-se, muitas
comentando a ridícula ideia de que ela seria capaz de cuidar de quatro crianças
que mal via. Para não falar do ódio que tinha à irmã.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas isso era mentira! Ela amava a irmã.
Apenas era muito diferente dela. Se a odiava, que aperto era aquele que ela
sentia? Aquela sensação de que perdera algo muito mais importante que uma
carreira no mundo do trabalho? Aquela sensação de nostalgia, em que não
conseguia deixar de se lembrar de quando elas tomavam conta de coelhos, os pais
observando ao longe, com enormes sorrisos transplantados nos rostos?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ela limpou as lágrimas e olhou para os
sobrinhos, que a fitavam tristemente. Dobrou atenção na menina, a única com os
olhos cinzentos da irmã. E sorriu. Tomaria conta deles, tal como Patrícia
tomara conta dela. Faria aquele esforço. Porque a irmã confiava nela. E também
porque estava unida a aqueles miúdos com algo mais que os laços de sangue.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Melancolia causa pela perda do seu sorriso
transparente e dos seus olhos expressivos. Saudade. </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span>
<h2 style="text-align: right;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large; line-height: 150%;"><u>BY</u>: Ana Santos</span></h2>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-292607887517316641.post-33721254863204991112012-06-16T13:58:00.000-07:002013-05-25T15:57:00.987-07:00Amarelo e Preto<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4Witw35RQwQHry3pbDrce2BhxGJEt2dBhCIZ7qTDximgyERMcpVzFptWA96OrpkuLKzQty4ZDMWTj33K0oeVvfzcDIaybmg8eiXah-K1Q9wIp8OXXp9i-jFWFZGAo70SlR8fArtG48zY/s1600/tumblr_ll9nw6pkPA1qglsdlo1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4Witw35RQwQHry3pbDrce2BhxGJEt2dBhCIZ7qTDximgyERMcpVzFptWA96OrpkuLKzQty4ZDMWTj33K0oeVvfzcDIaybmg8eiXah-K1Q9wIp8OXXp9i-jFWFZGAo70SlR8fArtG48zY/s1600/tumblr_ll9nw6pkPA1qglsdlo1_500.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">- A menina Sampaio sofreu um choque muito
grave. Corre risco de sofrer uma severa depressão e…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">As palavras calmas do psicólogo morreram na
minha mente. Eu vagueava por cima das nossas cabeças, como que apoiada no tecto
do gabinete limpo e organizado do homem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Ao meu lado, a minha mãe tremia ansiosamente,
bebendo cada palavra do psicólogo como se este tivesse o dom de prever o
futuro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Naquele momento, eu só pensava em coisas
mórbidas. Prédios de altos andares, quedas, vidros espatifados, sangue… muito
sangue…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Meses antes, teria tremido de nojo ao
imaginar tais cenas. Agora não. Agora até parecem cenas do dia-a-dia. E até têm
a sua graça. Quem diria que a tonta, ingénua e alegre Madalena Sampaio
conseguia ter tão forte humor negro? A mesma menina que brincava com contas e
bonecas de porcelana e que se ria das partidas que os rapazes pregavam à minha
grande amiga Sara, a maria-rapaz da escola. Se me tivessem perguntado meses
antes, a resposta seria óbvia. Agora, ainda consigo surpreender a pessoa mais
céptica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">A minha professora já não reclama de eu não
fazer os trabalhos de casa ou de chegar atrasada. Em vez disso, manda-me um
olhar de pena, como se tivesse sido eu a atirar-me do prédio abaixo. Como se
tivesse sido eu a morrer…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">A minha mãe mandou-me fechar as cortinas do
quarto. Ainda que eu dormisse no primeiro andar e, se saltasse, a queda mal me
aleijaria, ela teme que eu tenha ideias. Como se isso fosse possível. Tinha
coisas mais importantes em que pensar, em vez de tentar por fim à minha própria
vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Porque é que ela o fez? O nosso mundo sempre
fora alegre, amarelo. E com tons de rosa. Conheci-a desde criança, sabia tudo
sobre ela. Já dormi tantas vezes na casa dela, que até tinha lá uma cama extra,
pronta para me receber. E era o mesmo na minha casa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">E, naquele dia, tinha ido lá dormir. Faláramos
do teste de inglês, ao qual voltei a chumbar, rapazes, uma pulseira que a mãe
lhe tinha dado, comida… enfim, coisas de pré-adolescentes. Fui à casa de banho.
Quando voltei, ela saltou. Era como se ela tivesse esperado pelo momento em que
eu sairia da casa de banho e olhasse para ela nos olhos e visse o medo, a
vergonha, a tristeza, a despedida… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Para mim, não fazia sentido que Sara risse
despreocupadamente num momento e no noutro saltasse da sua própria varanda. Não
tinha qualquer sentido. Talvez ela me
mentira. Talvez cada risada dela escondia uma nuvem negra nos olhos ou nas suas
expressões. Uma nuvem que eu, sendo tão ingénua e estúpida, não me apercebi. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">-Madalena? – Ouvi a minha mãe chamar. Eu
virei-me para ela, tentando não mostrar a minha distracção. Mas o canalha do
psicólogo tinha-se apercebido e sorrira-me calorosamente. Apeteceu-me
atirar-lhe com o pisa-papéis à cabeça por me oferecer aquele sorriso, tão cheio
de pena e compreensão. Mas ele não compreendia. Eu tinha visto a minha melhor
amiga suicidar-se! As coisas nunca mais seriam as mesmas, por muito que ele dissesse
o contrário. Porque eu tinha mudado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">E pior, nem me tinha apercebido da mudança
até agora. Já não consigo sorrir como antigamente. Algo dentro de mim mudou. O
rosa desapareceu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">E, com o tempo, também desaparecia o amarelo…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">A minha mãe perguntou-me o que eu queria para
jantar. Eu encolhi os ombros, sem responder. Ela mordeu o lábio e, olhando em
meu redor, entrou no supermercado apressadamente. Eu fiquei cá fora, admirando
o muro da rua oposta. Lá, postava um gato malhado com uma pequena ferida na
pata. Parecia confuso. Pois bem, eu também estava confusa. Por muito estúpida
que seja, eu conseguiria saber se a Sara tinha problemas. Eu saberia se ela
tinha algum motivo para pôr termo à vida. Mas não havia nada. Tudo corria bem. Era
o nosso mundo amarelo e cor-de-rosa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Ela chorara antes de saltar. E sussurrara uma
única palavra antes de a gravidade a levar para longe de nós, para nunca mais a
vermos. Até hoje, ainda não conseguia compreender o significado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<i><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Ajuda-me.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Não contei nada disto à polícia. Fingi-me
chocada, mas a verdade era que o choque tinha-se ido quando ouvira o choque de
um corpo no carro estacionado à porta. Eu apoiara-me na varanda, vendo o corpo
da minha amiga sendo encontrado pelo porteiro e pelo dono do carro, que chamou
uma ambulância. Eu permanecia imóvel, a pensar naquilo que vira e naquilo que ela
dissera. Não estava em mim naquela noite. Nem nunca mais estarei. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">O psicólogo havia dito que, com a depressão,
corra risco em sofrer um transtorno obsessivo-compulsivo. Ele estava errado. Já
tinha este transtorno. Sempre que via sangue, lembrava-me da Sara e na ausência
de choque. Só sentia dor. E eu tornei-me algo semelhante a masoquista. Quis-me
agarrar à última memória que tinha de Sara, realizando ações que assustaram os
meus pais e familiares. Até o meu irmão mais velho, Francisco, tremia sempre
que me via a olhar para uma faca de serra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">O problema estava… é que eles não me
entendem. Querem-me curar. Mas não o podem fazer. Algo matou Sara. Algo forçou
a minha melhor amiga a saltar da varanda. Algo que me queria atingir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">E conseguiu. O amarelo foi-se. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<div style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ficou tudo preto.</span></span></div>
<div style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<h2>
<span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: large; line-height: 150%;"><b><u>BY:</u></b> Ana Santos</span></h2>
</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0